Eu me lembro de na faculdade o professor de literatura anglo-americana ter nos pedido para lermos algumas partes dos Pickwick Papers de Charles Dickens. Anos mais tarde, tentei ler o romance todo, mas fracassei. O pior obstáculo para mim foi, acredito, a linguagem por demais requintada. Esse inglês estiloso e a riqueza literária da prosa de Dickens não são para um leigo qualquer, como eu.
Para Pessoa, era um de seus romances prediletos. Assim nos diz Bernardo Soares:
Há criaturas que sofrem realmente por não poder ter vivido na vida real com o Sr. Pickwick e ter apertado a mão ao Sr. Wardle. Sou um desses. Tenho chorado lágrimas verdadeiras sobre esse romance, por não ter vivido aquele tempo, com aquele gente, gente real. [...] Quando o Sr. Pickwick é ridículo, não é ridículo, porque o é num romance. Quem sabe se o romance será uma mais perfeita realidade e vida que Deus cria através de nós, que nós - quem sabe - existimos apenas para criar? (p. 283)